terça-feira, 22 de março de 2016

Biografia - William Tyndale




William Tyndale nasceu em 1495, em Slymbridge, Inglaterra, perto da fronteira do País de Gales. Recebeu seu mestrado em 1515, pela Magdalen College, na Universidade de Oxford, onde havia estudado as Escrituras em grego e em hebraico. Ele também estudou em Cambridge, que estava tomada por idéias luteranas. Provavelmente Tyndale adquiriu suas convicções protestantes estudando lá. Ele foi ordenado ao sacerdócio em 1521. Mais tarde, expressou sua insatisfação com o ensino de teologia: "Nas universidades eles determinaram que nenhum homem olhasse para as Escrituras até que fosse embebido com aprendizagem pagã por oito ou nove anos, e armado com falsos princípios que claramente o impediam de compreender as Escrituras".

Tyndale tornou-se tutor da família de Sir John Walsh, em Little Sodbury Manor, ao norte de Bath. Enquanto estava morando nessa casa, ele ficou alarmado com a ignorância do clero local — muitos sacerdotes paroquiais da igreja católica, nos dias de Tyndale, eram tão corruptos que ficaram conhecidos como bêbados comuns, que recebiam regularmente prostitutas em suas igrejas! Até o cardeal Thomas Wolsey, o representante pessoal do papa na Inglaterra, viveu com uma companheira por vários anos e teve dois filhos, tendo-a passado, depois, para outro homem, com um dote!

Então, ao completar 30 anos, Tyndale já havia devotado sua vida à tarefa de traduzir a Bíblia das línguas originais para o inglês. O desejo de seu coração é ilustrado na declaração feita a um clérigo, enquanto refutava a concepção de que apenas o clero estava qualificado a ler e interpretar corretamente a Escritura: "Se Deus me conceder vida, não levará muitos anos e farei com que um rapaz que conduza um arado saiba mais das Escrituras do que vós". A única tradução da Escritura em inglês, naquele tempo, era a versão de John WyclifFe, disponível numa versão manuscrita e com várias imprecisões, que havia sido traduzida da Vulgata — a tradução em latim, feita por Jerônimo (347-420).

Em 1523, Tyndale partiu para Londres em busca de um local para trabalhar em sua tradução. Quando se tornou óbvio que o bispo de Londres, o erudito Cuthbert Tunstall, que era amigo de Erasmo de Roterdã, não lhe daria hospitalidade, foi-lhe providenciado um lugar por Humphrey Monmouth, que era um rico negociante de tecidos. Segundo Tony Lane, "os bispos estavam mais preocupados em impedir a propagação das idéias de Lutero na Inglaterra do que em promover o estudo da Bíblia". Então, ém 1524, Tyndale deixou a Inglaterra e foi para Hamburgo, na Alemanha, porque a igreja inglesa, que ainda estava sob autoridade papal, se opunha completamente a colocar a Bíblia nas mãos do povo. Ele disse que "não somente não havia lugar no palácio de meu senhor em Londres para traduzir o Novo Testamento, mas que também não havia lugar para fazê-lo por toda a Inglaterra".

Segundo D. M. Lloyd-Jones, Tyndale inha um ardente desejo de que o povo comum pudesse ler as Escrituras. Mas havia grandes obstáculos em seu caminho. Ele lançou uma tradução da Bíblia sem o endosso dos algo até então, inimaginável. Outra ação de sua parte, foi que ele saiu da Inglaterra sem permissão real. Esse também era um ato bastante incomum, e altamente repreensível aos olhos das autoridades. No entanto, no anseio por traduzir as Escrituras, Tyndale deixou o país sem o consentimento do rei e foi para a Alemanha, onde, com a ajuda de Lutero e de outros colaboradores, completou sua grande obra. Essa atitude significava a colocação da verdade antes das questões de tradição e autoridade, e uma insistência na liberdade de servir a Deus da maneira como cada qual julga certa.

É muito provável que Tyndale, tão logo tenha chegado à Alemanha, se encontrou com Lutero, em Wittenberg. Mesmo que tal fato não houvesse ocorrido, ele tinha pleno conhecimento dos escritos de Lutero e da sua tradução do Novo Testamento (publicado em 1522). Tanto Lutero quanto Tyndale usaram o mesmo texto grego para fazer suas traduções: uma compilação feita por Erasmo, em 1516.

No início de 1525, o Novo Testamento estava pronto para impressão. E estava sendo impresso em Cologne, quando as autoridades atacaram de surpresa a gráfica. Tyndale conseguiu escapar a tempo, levando consigo algumas páginas impressas. Apenas um exemplar dessa edição incompleta sobrevive. O fato aconteceu numa época em que pelas leis da igreja católica na Inglaterra constituía crime passível de morte traduzir a Bíblia para o inglês — em 1519, as autoridades da igreja queimaram publicamente uma mulher e seis homens por nada mais do que ensinar aos seus filhos versões em inglês do Pai-Nosso, dos Dez Mandamentos e do Credo dos Apóstolos!

A tradução de Tyndale do Novo Testamento só foi completada em 1526, em Worms, na Alemanha. Quinze mil exemplares, em seis edições, foram contrabandeados para a Inglaterra, entre os anos de 1525 e 1530. As autoridades da igreja fizeram o que podiam para confiscar esses exemplares e queimá-los, mas não conseguiram conter o fluxo de Bíblias da Alemanha para a Inglaterra. O arcebispo William Warham de Canterbury comprou um grande número de exemplares do Novo Testamento, para destruí-los — ironicamente acabou financiando uma edição melhor e mais numerosa! Como disse John Foxe na época, "Deus abrira a máquina de impressão para pregar"!

Não podendo mais retornar para a Inglaterra, porque sua vida estava em perigo desde que a tradução fora proibida, Tyndale continuou a trabalhar no exterior, corrigindo, revisando e reeditando sua tradução, até que uma versão revista e definitiva foi publicada em 1535. Sua tradução tinha um estilo popular e era dirigida ao homem simples, tornando as Escrituras acessíveis a todos. Exemplares desse Novo Testamento, levados por mercadores à Escócia, contribuíram também para a promoção da fé evangélica naquele país.

Em 1534, Tyndale mudou-se para Antuérpia, na Bélgica, morando na residência de Thomas Poyntz, um mercador inglês, para completai a ttadução do Antigo Testamento. Mas, pouco depois, em maio de 1535, ele foi traído por um colega inglês, Henry Phillips, um mau-caráter, em Antuérpia. Assim, ele foi detido e levado para um castelo perto de Bruxelas, em Vilvoorde. Depois de estar na prisão por mais de um ano, foi julgado e condenado à morte. Em 6 de outubro de 1536, Tyndale foi estrangulado e queimado na fogueira. Suas palavras finais foram comoventes: "Senhor, abra os olhos do rei da Inglaterra".

Tyndale havia começado a trabalhar na tradução do Antigo Testamento, mas não viveu o suficiente para completar sua obra. Havia, entretanto, traduzido o Pentateuco, os livros históricos (até II Crônicas) e Jonas. Esse homem simples, de origem comum, dominava sete idiomas: hebraico, grego, latim, italiano, espanhol, inglês e francês. Além disso, ele estava tão familiarizado com o alemão que era capaz de traduzir e interpretar até mesmo os pontos mais elaborados dos escritos de Lutero.

Enquanto Tyndale esteve preso, um dos seus colaboradores, Miles Coverdale, levou a cabo a tradução inteira da Bíblia para o inglês, baseada em grande parte na tradução do Novo Testamento e de outros livros do Antigo Testamento feita por Tyndale. O rei Henrique VIII proclamou: "Se não há heresias nele, que seja espalhado larga¬mente entre todas as pessoas!". Por volta de 1539, requereu-se que cada igreja na Inglaterra tivesse disponível uma cópia da Bíblia em inglês. De forma irônica, Coverdale terminou o que Tyndale havia começado.

A tradução de Tyndale tem tido uma imensa influência, e pode-se dizer que todo o Novo Testamento em inglês, até este século, foi meramente uma revisão do Novo Testamento de Tyndale. Cerca de 90% das suas palavras passaram para a versão do rei Tiago, de 1611, e cerca de 75% para a Versão Revisada Padrão, de 1952. O impacto do trabalho de Tyndale se reflete nas palavras que Edward Fox, bispo de Hereford, dirigiu a seus colegas bispos: "Não vos exponhais ao ridículo do mundo; a luz brotou, e está melhor dispersando todas as nuvens. Os leigos conhecem as Escrituras melhor do que muitos de nós".

Tyndale escreveu várias obras, das quais as mais conhecidas são Parábola da riqueza exagerada — um tratado sobre a justificação pela fé somente, onde ele recorreu fortemente a Lutero, algumas vezes só traduzindo seus escritos —, e Obediência do homem cristão — sobre o dever de obedecer às autoridades civis, exceto quando a lealdade a Deus está envolvida —, ambas de 1528.

Thomas More atacou vigorosamente "o capitão dos hereges ingleses", referindo-se a Tyndale, que escreveu uma réplica a ele, Uma resposta ao diálogo de Sir Thomas More, de 1531, que é a melhor exposição de seu entendimento teológico. Pata More, a verdadeira igreja era a igreja católica romana, a qual ele considerava infalível. Qualquer um que se opusesse ao papa, a qualquer de seus representantes ou a alguma doutrina da igreja era, aos olhos de More, um herético. Por causa dessa crença, More mandou queimar muitos evangélicos na estaca.

Para Tyndale, "a verdadeira autoridade para a fé deveria ser encontrada na Escritura, e qualquer pessoa ou grupo que negasse a autoridade da Escritura estava, em sua percepção, sob o controle do anticristo". More e Tyndale eram incapazes de chegar a um acordo, por causa de suas diferentes perspectivas sobre a fé cristã.

Outras de suas obras foram: Uma exposição da primeira epístola de São João (1531), Uma exposição de Mateus 5 a 7 (1533) e Uma pequena declaração sobre os sacramentos (publicada postumamente, em 1548). O livro Um prólogo para a epístola de São Paulo aos Romanos apareceu pela primeira vez na edição de 1534 do Novo Testamento em inglês. Esse prólogo foi impresso em separado, em Worms, Alemanha, em 1526, apresentando muitos pontos de semelhança com o prefácio que Lutero também escreveu de Romanos.

Assim, embora Tyndale não tenha vivido para ver o resultado daquilo que empreendeu, sua causa triunfou, bem como sua tradução.


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